Universitários como a paulistana Beatriz Pereira, de 23 anos, não têm mais vergonha de assumir que curtem música sertaneja. Fã da dupla Fernando e Sorocaba, a estudante de medicina estava na noite de quinta-feira entre 500 jovens que pagaram de R$ 20 a R$ 40 para dançar e cantar a plenos pulmões hits sertanejos no bar Mercearia São Roque, em São Paulo, frequentado por jovens da elite paulistana. Por insistência dos clientes, desde o ano passado a casa dedica duas noites ao sertanejo universitário. Não é a única. Desde junho do ano passado, no também paulistano Café de la Music, o público jovem de classe alta paga de R$ 40 a R$ 80 pela entrada para dançar música sertaneja nas noites de terça-feira e domingo.
Tradicionalmente menos afeitos à música sertaneja do que os paulistas, os cariocas também começam a se render ao novo ritmo. No ano passado, as casas noturnas Namaste, localizada na Gávea, e Lapa 40o, na Lapa, participaram do Festival Rio Sertanejo, evento cujo objetivo foi difundir o som das duplas na cidade. Os 8.500 ingressos disponíveis para o show que o cantor Luan Santana fez na cidade no começo deste ano, no Citibank Hall, na Barra da Tijuca, esgotaram-se.
BALADA
A estudante Beatriz Pereira (de branco) canta no Mercearia São Roque, em São Paulo
O que explica esse sucesso? Para a advogada paulistana Taís Rodrigues, de 30 anos, fã das duplas Jorge e Mateus, Fernando e Sorocaba e do cantor Luan Santana, é a combinação do ritmo alegre com os temas das letras. “Elas falam sobre relacionamentos, mas sem ser de uma maneira triste”, diz ela. A explicação é parecida com a de Daniel Rigon, coordenador de shows da Som Livre, gravadora que lançou os CDs de Maria Cecília & Rodolfo e Luan Santana, entre outros. “Se você for a uma festa sertaneja, vai notar que o clima é de festa, quase uma micareta”, afirma ele. “A linguagem reflete o cotidiano desses jovens.”
Do ponto de vista estritamente musical, no entanto, o sertanejo universitário não é tão diferente daquele cantado pelas duplas que fizeram sucesso na década de 90. “O grande lance de qualquer música sertaneja é que qualquer pessoa que aprende violão consegue tocar. Os arranjos e as melodias são simples”, diz o cantor João Bosco, da dupla João Bosco & Vinícius. Ele explica que as duplas de sertanejo universitário usam os mesmos instrumentos que as duplas mais antigas. A diferença está nos arranjos, que ficaram mais acelerados. Também não há vozes de apoio (chamadas de backing vocal) nem violinos. Com exceção de Luan Santana, que canta sozinho, a maioria dos cantores atua em dupla. Mas as vozes já não precisam ser tão finas e altas. “As músicas sertanejas mais antigas exploravam muito a voz aguda”, diz Sorocaba, da dupla Fernando e Sorocaba. “Hoje, os dois cantores podem trabalhar uma faixa de voz mais grave.” O visual das duplas também se modernizou. Em vez de se vestirem como caubóis, eles estão mais parecidos com astros da música pop e do rock. O chapéu ainda está presente, mas a camisa xadrez foi trocada pela camiseta básica, as calças de couro pelo jeans e a bota de bico fino por tênis ou sapato social. As mudanças na música e no estilo da nova geração de cantores são aprovadas por veteranos como Chitãozinho, da dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó, a primeira a tocar nas rádios FM do Brasil, na década de 80. “Essa moçada está transmitindo a música sertaneja para a nova geração, assim como fizemos na nossa época”, afirma.
Nos bastidores dessa renovação, está Ivan Miyazato, que agora tem 32 anos. Ele seguiu a trajetória das duplas que ajudou a gravar em Campo Grande e moveu-se para São Paulo, onde está o grande mercado. A camaradagem de jovens iniciantes se transformou em negócio rentável de adultos. Seu estúdio de gravação agora está instalado em Alphaville, Barueri, na região metropolitana de São Paulo. Ele também mora na cidade com a mulher e a filha de 1 ano e 8 meses. Em parceria com Pinocchio, um veterano produtor de música sertaneja, ele produz áudio, vídeo e faz mixagens para a maioria das novas duplas de sertanejo universitário. Nascido em uma família de classe média baixa – os pais, japoneses, eram feirantes –, ele diz que em Campo Grande cobrava cerca de R$ 20 mil para produzir um disco. Agora cobra R$ 100 mil. Mas jura que continua morando de aluguel (em uma casa maior) e que, ao contrário das duplas com as quais trabalha, ainda não ficou rico. Nem usa chapéu de vaqueiro: “Minha marca registrada é ser japonês”.
Maria Cecilia & Rodolfo foi citada na Reportagem:
MARIA CECÍLIA & RODOLFO
De onde são: Campo Grande, MS
Quando começaram a fazer sucesso: a dupla existe desde 2007, mas estourou em 2008 com a gravação do primeiro CD
Hit mais conhecido: “Você de volta”
Quanto já venderam:
55 mil CDs e 37 mil DVDs
Shows por mês:
entre 18 e 20